Vendo bem as coisas, a tarde de domingo foi uma na qual tudo correu bem para o Operário. Muito se pode dizer sobre a história do jogo, esse que teve o seu número de incidências, mas para o registo fica a vitória da formação lagoense na estreia na nova temporada do Campeonato de Futebol dos Açores. Mais do que isso, foi uma vitória perante um sempre difícil São Roque que mostrou a espaços que tem qualidade para competir pelos lugares cimeiros, assim como o regresso da Fúria Fabril e dos simpatizantes da equipa dirigida por Emanuel Simão.

Tudo depois de uma quarentena que obrigou o plantel da equipa da Lagoa a não treinar, formando-se também por aí uma desvantagem a vários níveis. Sabendo que os jogadores não se podiam exercitar em grupo com a bola nos pés e que não estaria no mesmo patamar do seu adversário da 3ª jornada, eles que já levavam dois jogos oficiais nas pernas. E a verdade é que apesar de tudo isso, e até de um adversário que ameaçou por diversas vezes tomar conta do marcador, o Operário saiu com 3 pontos do Campo João Gualberto Borges Arruda.

O que a vitória traz? Um enorme ponto de exclamação neste Campeonato de Futebol dos Açores 2020/21. Uma equipa que parte em desvantagem teórica devido às circunstâncias envoltas, sem o mesmo ritmo competitivo, a conseguir vencer no regresso oficial que nas duas primeiras jornadas lhes foi adiado. É um claro sinal de que a equipa lagoense não está para estender a passadeira a ninguém nesta competição que, como todos sabemos, foi suspensa na época passada devido às circunstâncias que também conhecemos.

Agora… se foi perfeito? Não. Primeiro referir que, e não por demérito do Operário, que o São Roque fez uma excelente partida na Lagoa. Com argumentos convincentes, embora sem que fossem materializados necessariamente em oportunidades flagrantes de golo, os amarelos por diversas vezes mostrou a sua intenção em alcançar os 3 pontos, sem nada a perder, e subindo metros com meia-hora para se jogar e, novamente, à entrada para os últimos 15 minutos. Não seria justo dizer que a equipa de Nicolau Carvalho dominou por completo a partida, sendo que o Operário tinha sempre uma palavra a dizer, mesmo nas alturas em que aparecia mais resguardado, mas acabou por meter o peito para fora e por várias vezes salientar a intenção de assumir as rédeas do jogo.

Defensivamente o Operário cumpriu. Não foi perfeito. Se no momento ofensivo foi perfeito? Também não. Foi o suficiente para vencer com um autogolo à beira do minuto 90, é certo, mas muita displicência e falta de frieza na hora da finalização. Acaba por ser irónico o facto da formação lagoense ter chegado ao golo através de um adversário, já que no momento de rematar à baliza os indicadores iam apontando para o nulo. Entre demasiados compassos de espera a um claro desnorte na hora de alvejar a baliza, além de um eficiente trabalho defensivo do São Roque, os lagoenses acabaram por ter muito trabalho de casa para melhorar esse capítulo. Dizer que a equipa também perdeu com a saída de Rodrigo Simão, por aparente lesão ainda ao minuto 56, ele que tão interventivo acabou por ser no 1º golo.

E se o capítulo da finalização acabou por ser o mais ingrato da partida para o Operário, a forma como as oportunidades se somavam acabou por ser, talvez, o ponto mais positivo a reter para Emanuel Simão. Nesse campo, dizer que o regresso de Dani é de valor inestimável. Depois de duas temporadas ao serviço do Ideal, o médio micaelense regressou a casa, ele que representava os lagoenses desde os iniciados antes da mudança para a Ribeira Grande. É diferenciado pela mobilidade assim como qualidade técnica e, apesar do forte plantel que o Operário apresenta para a nova época, continua a ser um destaque sempre que entra em campo. Dele se iniciaram múltiplos momentos de construção no último terço que podiam, com outra frieza, ter resultado em golo ou, pelo menos, em oportunidades dignas de golo. Ele próprio tentou o golo, mas Paulo Medeiros, do outro lado, esteve de luvas quentes.

E se estava difícil encontrar o caminho do golo, mesmo com Dani ou Hugo Santos a tentar servir da forma mais eficiente, a entrada de Miguel Rego em jogo acabou por ser um autêntico abanão na partida. Qualidade nunca lhe faltou desde que caminhava pela formação do Santa Clara, isso é certo. Continua o mesmo jogador vertiginosa com travo de samba que vai para cima do adversário e provoca o desequilíbrio que, mais vezes do que não, acaba ele por ganhar. Mesmo não marcando, e mesmo com alguns momentos em que acabou por tardar em soltar o esférico, acabou por ser um desbloqueador.

No fim ganhou quem acabou por fazer mais por isso. Diante dos seus adeptos pela primeira vez numa eternidade (ou pelo menos assim pareceu), e frente a uma equipa que tem condições, mais uma vez, de lutar pelos lugares cimeiros na tabela, o Operário não foi perfeito, mas depois de tamanhas condicionantes no início da época a vitória era mesmo a única necessidade. Porque diante de ainda 6 teóricos pontos em atraso e possíveis de conquistar, algo menos do que os 3 pontos teria sempre um sabor amargo.

FICHA DE JOGO

CLUBE OPERÁRIO DESPORTIVO: Hugo Viveiros (GR); Elton, Ricardo Carvalho, Igor Cartaxo e Gonçalo Reyes; Ianique Ca, Dani e Marcelo Castro; Cissé, Hugo Santos e Rodrigo Simão.

SUPLENTES UTILIZADOS: Luís Simão, Rodrigo Costa e Miguel Rego.

GRUPO DESPORTIVO SÃO ROQUE: Paulo Medeiros (GR); Júlio, Luís Soares, Leandro, Leandro e Markovic; André Cordeiro, Besugo e Emanuel; Patrício, Lelé e Rúben Rodrigues.

SUPLENTES UTILIZADOS: Sandro Rodrigues, João Câmara e António Caires.

GOLOS: Luís Soares (autogolo 87’).

- Luís Barreira
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